O fim dos veículos lucrativos de comunicação

Recebi durante essa última semana mensagens de dois veículos de comunicação com pedido de ajuda para não fecharem as portas e saírem do ar. Os dois pedindo doações aos leitores para manter rodando suas redações.

As mensagens vieram do The Intercept Brazil e da Gazeta do Povo. Dois veículos que, na minha opinião, tem forte viés ideológico e se posicionam como veículos independentes e de opinião.

A dificuldade de manter um fluxo positivo de caixa, no meu entendimento, está na fuga dos anunciantes que buscam maior neutralidade na comunicação.

Falar de política espanta os anunciantes. Que buscam veículos focados em amenidades, economia e negócios como meios preferenciais de comunicação.

O debate político e a crítica pública acabam restritos apenas aos que querem se manifestar independentemente de o jornalismo ser uma atividade rentável ou não.

Anônimas

Um leitor perguntou se vale a pena pra mim escrever o quê eu escrevo.

A resposta é simples: não vale mas o objetivo foi atingido.

Explico.

Voltei a escrever e publicar depois que começaram a enviar cartas anônimas com denúncias genéticas de irregularidades na Receita Estadual. Surgiu o boato de que as cartas seriam de minha autoria.

O desmentido do boato foi simples. Voltei a escrever e publicar aqui neste site o quê eu descubro, sei, acredito ou confirmo.

É por isso que as denúncias anônimas não eram levadas a sério até pouco tempo atrás e é por isso que, na minha opinião, denúncias anônimas deveriam ser arquivadas de plano pelos órgãos de controle administrativo.

Passa-se mais tempo tentando descobrir de onde veio a denuncia do que investigando o suposto delito .

Errei

Nos quase quatro anos que publico aqui neste site sempre tentei ser o mais direto e objetivo possível.

Nesse objetivo, acabei presumindo que todos que leem sabem que o quê escrevo reflete a minha opinião e o meu ponto de vista.

Mas evidentemente estava errado.

Por omissão, incorri no que, no direito, se chama eloquência acusatória. Impregnando meus artigos com um tipo específico de excesso de linguajem, que mais deveria se chamar de falta de linguagem, já que se refere a ausência de palavras que deixem mais claro se tratar da opinião ou do entendimento de quem escreve.

Dito isso, passei a adotar deste momento em diante o discurso em primeira pessoa. O que é uma completa falta de estilo jornalístico. Mas deixa claro partirem da minha opinião e do meu entendimento as informações que aqui publico.

Por esse motivo, estou revisando o que já publiquei. Incluindo o que faltou com realce em azul, como por exemplo este texto.

As adições tem o objetivo de esclarecer aos leitores incautos que o que publico reflete minha opinião e meu entendimento.

É uma mudança necessária frente a tentativa de censura e o assédio processual ao qual estou sendo submetido. Mesmo que, para mim, sempre tenha ficado claro se tratar da minha própria opinião e meu próprio entendimento tudo o que publico.

Bolhas criadas por redes sociais estão treinando pessoas para não aceitarem fatos e opiniões divergentes

Armadas com algoritmos poderosos que advinham quais conteúdos um usuário irá gostar e quais não irá com base no tempo que você demora para deslizar cada postagem, redes sociais como o Twitter e o Facebook estão treinando as pessoas a terem respostas infantis ao serem confrontados com fatos e opiniões contrárias.

Não é a toa que a polarização política tem atingido níveis alarmantes. Como foi o nível atingido com a tentativa de invasão do Capitólio após a derrota de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos da América, em janeiro do ano passado.

Ao apresentar apenas fatos e opiniões com as quais os usuários possam concordar, as redes sociais se transformaram em uma máquina de proliferação de notícias falsas. Privilegiando um tipo de jornalismo altamente especulativo, no qual os fatos já não importam.

A esse fenômeno do jornalismo desapegado da realidade corrente foi dado o nome de “pós verdade”. Uma espécie de debate ou manipulação da opinião pública que já não se importa com a verdade ou a mentira. No qual já não faz mais diferença falsificar a verdade, porque não é a verdade a nova qualidade que fará ter alcance a notícia.

Diferente da notícia verdadeira, da qual o valor derivava da precisão da informação obtida e divulgada no notícia, a pós-verdade foca na resposta emocional do indivíduo.

Vai mais longe e, por isso, tem mais audiência, a notícia que repete modelos preconceituosos que levam a conclusões congruentes.

Como o custo da edição e publicação da notícia pelas redes sociais tende a zero, tende a zero também o esforço que deve ser empregado para que seja economicamente viável produzir a notícia.

Essa redução ao nada fez com que o jornalismo pouco a pouco se transformasse em uma mistura de noticia propositadamente falsa, que gera cliques e com as quais seus autores faturam dinheiro; notícias altamente especulativas, no qual o fato não importa e seu conteúdo está apenas no futuro e no jornalismo político, altamente opinativo e carregado de ideologias.

O fato nu e cru como era antes a base do jornalismo, tornou-se demasiadamente caro e desinteressante e hoje tende a ter a mesma audiência do que a opinião, a especulação e a mentira.

Com a avalanche de notícias de segunda linha, usuários de redes sociais tendem a ser expostos a um recorte da realidade que lhes agrada. Chegando a acreditar que o que veem nas redes sociais é o que domina o debate público, sem lhes ocorrer, no entanto, que talvez a opinião a que estejam expostos seja a opinião minoritária no universo de diferentes posições políticas.

Quando encontram veículos desprovidos de algoritmos, nos quais os conteúdos não são filtrados e a eles são mostradas todas as notícias, surtam. Desenvolvem um comportamento infantilizado, uma espécie de birra.

Não concordam com o que leem e buscam retirar o conteúdo que lhes desagrada até mesmo na justiça.

Os algoritmos das redes sociais estão treinando seus usuários a aceitarem apenas o que lhes agrada. A contínua exposição apenas ao que que lhes agrada os está tornando-os dependentes de seus filtros algorítmicos.

Português

Um dos maiores desafios que encontrei na redação dos artigos publicados neste site é redigir usando o celular.

Não são poucos os erros de grafia, as palavras repetidas e os deslizes no bom português.

Ainda não existe um autocorretor perfeito e, quando existir, provavelmente será o fim do jornalismo profissional. Como já ameaça ser com o contante aperfeiçoamento de ferramentas de inteligência artificial como o GPT-3.

Pro bono publico

“Pro bono” é a forma reduzida da locução em língua latina pro bono publico, que significa “pelo bem público” ou “em benefício do público”.

Trata-se de uma forma de trabalho voluntário que, ao contrário do voluntariado tradicional, requer habilitação profissional, embora não seja remunerado.

Wikipedia.

Embora o termo seja mais frequente no exercício gratuito da advocacia, não é raro encontrar médicos, dentistas, ambientalistas e outros profissionais em missões nacionais ou estrangerias, muitas vezes em ambientes hostis como zonas de guerra e missões humanitárias, exercendo suas profissões de forma gratuíta.

Com o jornalismo, hoje, não é mais diferente.

Com a morte dos grandes jornais ocasionada pela Internet e pela redução massiva do curso de veiculação do texto jornalístico, o mundo presencia hoje uma forte onda do exercício profissional e gratuito do jornalismo.

É uma espécie de jornalismo pós-moderno. Pautado menos pelo valor financeiro da notícia e mais no interesse público orquestrado pelas redes sociais e seus algoritmos.

Embora alguns veículos hoje vivam financeiramente de anúncios terceirizados, todos buscam os cliques que levam o leitor até a notícia.

O jornalismo exercido profissionalmente e de forma gratuita é a última linha de defesa contra as campanhas massivas de notícias falsas e o monopólio da imprensa.