Bolhas criadas por redes sociais estão treinando pessoas para não aceitarem fatos e opiniões divergentes

Armadas com algoritmos poderosos que advinham quais conteúdos um usuário irá gostar e quais não irá com base no tempo que você demora para deslizar cada postagem, redes sociais como o Twitter e o Facebook estão treinando as pessoas a terem respostas infantis ao serem confrontados com fatos e opiniões contrárias.

Não é a toa que a polarização política tem atingido níveis alarmantes. Como foi o nível atingido com a tentativa de invasão do Capitólio após a derrota de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos da América, em janeiro do ano passado.

Ao apresentar apenas fatos e opiniões com as quais os usuários possam concordar, as redes sociais se transformaram em uma máquina de proliferação de notícias falsas. Privilegiando um tipo de jornalismo altamente especulativo, no qual os fatos já não importam.

A esse fenômeno do jornalismo desapegado da realidade corrente foi dado o nome de “pós verdade”. Uma espécie de debate ou manipulação da opinião pública que já não se importa com a verdade ou a mentira. No qual já não faz mais diferença falsificar a verdade, porque não é a verdade a nova qualidade que fará ter alcance a notícia.

Diferente da notícia verdadeira, da qual o valor derivava da precisão da informação obtida e divulgada no notícia, a pós-verdade foca na resposta emocional do indivíduo.

Vai mais longe e, por isso, tem mais audiência, a notícia que repete modelos preconceituosos que levam a conclusões congruentes.

Como o custo da edição e publicação da notícia pelas redes sociais tende a zero, tende a zero também o esforço que deve ser empregado para que seja economicamente viável produzir a notícia.

Essa redução ao nada fez com que o jornalismo pouco a pouco se transformasse em uma mistura de noticia propositadamente falsa, que gera cliques e com as quais seus autores faturam dinheiro; notícias altamente especulativas, no qual o fato não importa e seu conteúdo está apenas no futuro e no jornalismo político, altamente opinativo e carregado de ideologias.

O fato nu e cru como era antes a base do jornalismo, tornou-se demasiadamente caro e desinteressante e hoje tende a ter a mesma audiência do que a opinião, a especulação e a mentira.

Com a avalanche de notícias de segunda linha, usuários de redes sociais tendem a ser expostos a um recorte da realidade que lhes agrada. Chegando a acreditar que o que veem nas redes sociais é o que domina o debate público, sem lhes ocorrer, no entanto, que talvez a opinião a que estejam expostos seja a opinião minoritária no universo de diferentes posições políticas.

Quando encontram veículos desprovidos de algoritmos, nos quais os conteúdos não são filtrados e a eles são mostradas todas as notícias, surtam. Desenvolvem um comportamento infantilizado, uma espécie de birra.

Não concordam com o que leem e buscam retirar o conteúdo que lhes desagrada até mesmo na justiça.

Os algoritmos das redes sociais estão treinando seus usuários a aceitarem apenas o que lhes agrada. A contínua exposição apenas ao que que lhes agrada os está tornando-os dependentes de seus filtros algorítmicos.