Aporofobia e a arquitetura hostil

Aporofobia é a rejeição à pessoas pobres. A palavra vem do grego, a-poros, sem posses, somado a fobia, medo ou aversão.

A palavra ganhou notoriedade com o ativismo do padre Júlio Lancellotie. Que quebrou com marretadas pedras instaladas embaixo de um viaduto para afastar moradores de rua que se abrigavam ali.

Padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo da Rua, quebrou paralelepípedos a marretadas na manhã desta terça-feira (2)  — Foto: Reprodução/Instagram
Padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo da Rua, quebrou paralelepípedos a marretadas na manhã desta terça-feira (2) — Foto: Reprodução/Instagram

A imagem revelou também outro aspecto da palavra. O quê pode ser chamado de arquitetura hostil.

A arquitetura hostil é um tipo específico de arranjo de espaços urbanos que mais se assemelha a um cenário de um filme distópico. Algo como uma ficção sobre um tempo em que pessoas deixam de trabalhar por opção e espaços públicos precisam ser remodelados para evitar que a preguiça desses cidadãos os permita ficarem deitados, jogados ou amontoados em espaços públicos destinados a outros fins.

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Imagem: As cidades que odeiam seres humanos. pragmatismopolitico.com.br.

A realidade infelizmente é outra. Pessoas se abrigam embaixo de viadutos e marquises por falta de outra opção.

260m² de terreno na periferia de uma cidade fazem pouca ou quase nenhuma diferença em termos de valor de uso para produção rural. Mas fazem uma diferença enorme quando o assunto é moradia urbana para pessoas que não possuem onde se abrigar da chuva e do frio.

Em um país no qual para criar uma cabeça de gado ou colher 450kg de soja se utiliza 1.000m², em um terreno de 260m² necessário para a moradia de uma família se produz o equivalente a 19,5kg de soja ou 1,86kg de carne bovina por mês.